A visita da família Obama, quando veio ao Brasil, à exposição Mulheres, Artistas e Brasileiras no Salão Oeste do Palácio do Planalto, fez com que me recordasse das maravilhosas bonecas do vale do Jequitinhonha - a presidente Dilma fez um pedido especial para que fosse apresentada à arte do Vale.
Meu primeiro contato com as bonecas foi através de imagens em reportagens que li sobre o Vale. Mas a primeira vez que as vi, foi na exposição O Barro que Encanta, com curadoria de Maria Amélia Dorneles, que aconteceu no espaço do Centro Cultural da UFSJ, no Contaf/2010.
As bonecas não são só maravilhosas, elas são cheias de vida, ricas em detalhes, leveza e sentimento. Elas retratam a vida das artesãs, conhecidas como “viúvas da seca” por conta do êxodo de seus maridos em busca de trabalho. As bonecas são apresentadas com olhos, cílios, lábios e unhas pintadas, e penteados impecáveis. Todas usam colares, brincos e outros enfeites. Sonhos de glamour de um povo sertanejo sofrido que vive numa das mais pobres regiões do país, assolada regularmente por secas e enchentes.
D. Isabel é certamente a mais famosa bonequeira que trabalha com barro no Vale do Jequitinhonha. Exerce o seu ofício, "mexe com o barro", no pequeno vilarejo de Santana do Araçuaí no Município de Ponto dos Volantes. Filha de louçeira, que possuía um saber ancestral obtido de seus antepassados indígenas, cresceu vendo a mãe trabalhar. No início sua relação com o barro aconteceu como todas as crianças do interior. Na infância modelava com argila objetos para as suas brincadeiras. Foi aí que surgiu o sonho de fazer bonecas que só se materializou muitos anos após, já na idade adulta.
Já casada e depois viúva, Dona Isabel, no esforço de criar seus filhos, fugindo das dificuldades de ganhar o pão de cada dia no trabalho na roça, passou a produzir potes, travessas, figuras de presépios, que eram vendidas nas feiras da região. Nesta época suas criações se destacavam em meio às outras graças à sua inventividade e o capricho na modelagem e decoração das peças.
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